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quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Os desafios do raciocínio público

Leitores, perdoem minha negligência. Tenho novamente ocupado grande parte do meu tempo com assuntos não muito interessantes – para não dizer burocráticos- (colegas de classe que o digam) e acabei por largar o blog às moscas. Pretendo retomar as atividades hoje, espero que em grande estilo, refletindo um pouco sobre um assunto que muito me intriga e apaixona: o limite da atuação repressiva dos agentes públicos e seus desdobramentos.
O texto é fruto de um artigo que li há aproximadamente um mês no jornal O Estado de S. Paulo , intitulado “ Bandidos travestidos de autoridade”, escrito pelo delegado da Polícia Federal Jorge Barbosa Pontes.
O artigo questiona, dentre outras coisas, o papel que os agentes públicos corruptos representam na manutenção do crime organizado (mais especificamente o tráfico de drogas), e afirma que a corrupção de tais agentes é flagelo muito mais destrutivo que o próprio tráfico de drogas nos morros: “Neste momento é importante para o contribuinte entender que o policial corrupto é tão ou mais vil e deletério que o traficante de drogas ou de armas. Se retirarmos das ruas os traficantes sem alvejarmos os agentes públicos comprometidos que os mantêm e os protegem, o trabalho estará longe de se completar. É como querer reformar os móveis de uma sala e tirar apenas a poeira do mobiliário”.
A opinião do delegado, analisada sob o ponto de vista prático, é extremamente pragmática e condizente com a realidade. De fato observamos diariamente em noticiários, publicações e redes sociais que casos de corrupção dentro de corporações policias, poder judiciário, executivo e legislativo relacionam-se diretamente com a intrincada rede do tráfico de drogas, além de corroborar para a descrença da população nas instituições Estatais. 
No entanto, apesar do artigo ser esclarecedor em muitos aspectos, esquece de levar em conta alguns requisitos históricos, econômicos e sociais[1] essenciais a compreensão do tema, e revela um erro crasso –além de proposital- cometido pela grande maioria de nossos governantes e gestores de políticas públicas no que tange a complexa estrutura do crime organizado (mais precisamente aquele ligado ao tráfico de drogas): a corrupção não é necessariamente a causa principal e nem a única que sustenta o tráfico de drogas em seus moldes atuais. Esta é uma visão parcial do problema, que se encontra em evidência principalmente depois do sucesso conquistado pelo filme Tropa de Elite 2- O inimigo agora é outro.
As nefastas práticas abusivas executadas por policias e outros agentes governamentais, tais como tortura, execuções e espancamentos, pouco discutidas na grande mídia e tidas muitas vezes como naturais e heróicas[2] possuem também papel fundamental, exercendo forte influência  na manutenção deste problema social.
Para iniciar uma discussão um pouco mais abrangente sobre o tema, há que se diferenciar duas palavras tidas por muitos como sinônimos em nosso cotidiano: vingança e retribuição. A função do Estado- representado na seara criminal pela polícia preventiva, judiciária, Poder Judiciário e Ministério Público- é a de julgar e aplicar – ou não- penas que retribuam[3] de forma proporcional a conduta lesiva efetuada pelo criminoso. Para tanto, quando do julgamento e aplicação das penas deve haver respeito a procedimentos e princípios positivados em códigos e leis, que estabelecem as diretrizes necessárias para que a retribuição estatal não extrapole seus limites e se torne arbitrária e prejudicial. Enquanto que a vingança, por outro lado, devido a seu caráter pessoal e imprevisível, é prática absolutamente incompatível com qualquer ação pública ou estatal. Seu fundamento é a retribuição desmedida, ilimitada, proporcional apenas a subjetividade do agente que a executa.
Aplicando estes conceitos a episódios cotidianos de violência e repressão, endereçados a parcela marginalizada de nossa população, com os quais temos contato corriqueiramente[4], fica evidente que em inúmeros casos é praticamente impossível distinguir ações retributivas de ações vingativas, principalmente em se tratando de práticas policiais. Tais práticas muitas vezes vêm acompanhadas e legitimadas por discursos de defesa da justiça e da ordem Estatal, que enaltecem um comportamento completamente ilegal e truculento por parte dos agentes estatais.
 Conclui-se daí que infelizmente há arraigada em nossa cultura política a crença de que “bandido bom é o bandido morto” [5] (lógica vingativa, por excelência). Para muitos brasileiros é preferível executar, torturar e ocultar o corpo de um inocente – ou até mesmo de um culpado- a fim de exibir a captura de um grande traficante como troféu e dar uma boa “lição” (?) no criminoso, a obedecer ao que foi estabelecido por nossas leis, que quando aplicadas acabam sendo classificadas como “ direitos humanos para vagabundos”.   
Ora, se nem mesmo os “agentes máximos da segurança estatal” aplicam de forma igualitária princípios básicos de um Estado Democrático de Direito, tais como o direito a vida, ao devido processo legal, ao contraditório, a dignidade da pessoa humana  etc. e muitas vezes “fazem justiça com suas próprias mãos”, como esperar que indivíduos que em sua grande maioria não tiveram qualquer tipo de educação cidadã ou jurídic,a e que convivem com tais práticas diariamente, não as assimilem (nem que seja de forma inconsciente) e as consideram passíveis de reprodução?     
           Bem, sei que a reflexão é árdua e implica na quebra de uma série de paradigmas(e preconceitos) infiltrados em nossa mente. Deixo-a, portanto, a cargo da sensibilidade de cada leitor.
Quanto a mim, acredito que de fato a corrupção estatal tem grande responsabilidade no fomento do tráfico de drogas e do crime organizado como um todo. Porém, enquanto nossos agentes estatais não repensarem sua forma de atuação e continuarem agindo de forma privada no trato de questões eminentemente públicas, que devem ser pensadas sob a ótica de um Estado Democrático de Direito, continuaremos fomentando diariamente pequenos e perigosos estados de exceção [6], com ou sem corrupção.


[1] O livro “Abusado- O Dono do Morro Santa Marta” de Caco Barcellos (Editora Record, 560 paginas) oferece uma visão fantástica, minuciosa e desprovida de preconceitos e lugares comuns sobre o trafico de drogas no Rio de Janeiro.
[2] Recordemo-nos do filme “Tropa de Elite”, que consagrou o truculento Capitão Nascimento como herói nacional.
[3] Importante ressaltar que a retribuição não e tida com a única função da pena. Existem inúmeras teorias e escolas que refutam tal entendimento. VIDE Capitulo V- As funções da pena no Estado Democrático de Direito, inserido no livro “TRATADO DE DIREITO PENAL, Parte geral” de Cesar Roberto Bittencout.
[4] http://noticias.terra.com.br/brasil/noticias/0,,OI5468347-EI5030,00-Rio+de+Janeiro+ocupacao+da+favela+da+Rocinha+e+iniciada.html
[5] VIDE livro “JUSTICA-Pensado alto sobre violência, crime e castigo” de Luiz Eduardo Soares -autor de Elite da Tropa 1 e 2. (Editora Nova Fronteira, 196 paginas)
[6] VIDE livro “Estado de Exceção” do filosofo italiano Giorgio Agambem (Editora Boitempo, 142 paginas)

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

E Maringá foi ao teatro..


      Não sei se pela peça, não sei se pelo preço (ou melhor, a falta dele..) ou se pelo feriado, mas muitos maringaenses  deixaram o conforto de suas casas para ir ao teatro nesta segunda feira (finalmente!). Lamartine Babo, encenada pelo CPT – SESC de São Paulo no  Teatro Marista, foi a peça escolhida pela organização para oficialmente dar início ao 1° Mostra de Teatro Contemporaneo de Maringá, que começou segunda feira, dia 15/08, e vai até 28/08  .


      O que se observou na noite de estréia foi um público um tanto quanto desacostumado, porém extremamente atento e entusiasmado com o espetáculo.  As canções de Lamartine Babo, interpretadas com muita graça e harmonia pelo CPT-SESC, foram capazes de envolver a platéia e cativar inclusive os que nunca haviam ouvido falar do compositor carioca. Confesso que a sensação de ver o palco de um teatro que costuma ser utilizado apenas para congressos, shows e peças de “renome” (todos um tanto quanto caros, diga-se de passagem) preenchido por atores relativamente desconhecidos, encenando uma peça gratuita e igualmente desconhecida para o público leigo foi sublime.
      A iniciativa de oferecer uma mostra de teatro a preços tão atrativos e com tamanha qualidade artística em uma cidade do interior é com certeza digna de muita admiração e incentivo. Porém,uma questão muito importante e que ainda permanece pendente (e que provavelmente permanecerá até o final do Mostra) é: será que ela será capaz de criar o “hábito do teatro” no maringaense ou atingirá apenas um público específico e setorial, como a maioria das produções artísticas que temos por aqui? Pergunta um tanto quanto capciosa, mas explico:
       Não foram poucas as vezes em que ouvi reclamações sobre a falta de “vida cultural” em Maringá. Segundo muitos, falta a nossa cidade peças de teatro, apresentações de grupos de dança, stand up’s.. Enfim, faltam opções de entretenimento além das festas universitárias e das caras e esporádicas produções importadas pelas grandes rádios da cidade. Em contrapartida, não foram poucas também as vezes em que fui a projetos como o “Convite ao Teatro”, “Convite a Música”, “Convite a Dança”, “Projeto um outro olhar” ou a apresentações do TUM e encontrei alguns gatos pingados na platéia. Inclusive, muitas destas pessoas que criticaram a rotina cultural de Maringá sequer sabiam da existência de tais iniciativas. E é justamente aqui que vem a tona a questão do hábito do teatro que incitei no parágrafo acima.
      Apesar de todas estas iniciativas serem periódicas e gratuitas (ou a preços simbólicos) e contarem com divulgação no jornal local (tanto na versão televisionada quanto na escrita) e também em murais na Universidade Estadual de Maringá, o número de pessoas que costuma freqüentá-las é mínimo. Parece existir na parcela da população “amante das artes” em Maringá uma tendência a valorizar e atribuir qualidade somente a produções famosas, importadas de grandes centros como Rio de Janeiro e São Paulo e a ignorar o que é feito por aqui. Não existe vontade de freqüentar o espetáculo pelo que ele proporciona , mas sim pelo que representa, existindo portanto idolatria ,e não hábito.
      Porém, ao observar a grande fila na entrada do teatro, a ecleticidade e volume da platéia (desde casais de namorados no auge de seus quinze anos até avós acompanhando seus netos) , o grande número de incetivos culturais e a variedade de atividades oferecidas (palestras, filmes, peças, entre outras) pude concluir que ela está tendo e provavelmente terá papel importante no processo de desmistificação daquelas grandes e famosas peças e no fomento da valorização do que é feito por maringaenses. 
      Torçamos apenas para que a noite de estréia torne-se rotina.    



O que vocês acham?
       

segunda-feira, 2 de maio de 2011

O outro lado da história

        Algumas provas e um infindável projeto de iniciação científica fizeram com que meu tempo para o blog se reduzisse a poucos minutos diários. Findo o projeto ( as provas ainda não,infelizmente), volto a me dedicar ao cinema, zona 7, livros, UEM ou o que mais possa parecer interessante.
       O tema que me faz escrever hoje talvez destoe um pouco do objetivo do blog, no entanto apesar de leiguíssima no quesito política, senti uma certa obrigação social em escrever algo sobre o assunto.
       Na madrugada de ontem, finalmente, a população norte americana teve o sangue dos seus vingado depois do festejado (e obscuro) assassinato de Osama Bin Laden.  Em meio a jantares comemorativos e manifestações calorosas de alegria e satisfação, o subitamente adorado presidente americano Barack Obama anunciou com muita satisfação que “a justiça foi feita”.
      Sempre fui extremamente cética com relação a teorias da conspiração ou qualquer tipo de especulação que ultrapasse a racionalidade e passe a  justificar-se através de argumentos político-ideológicos. Contudo, neste caso é natural a qualquer indivíduo que tenha o mínimo de senso crítico um processo de contestação das informações fornecidas pela mídia e formulação de justificativas um pouco mais bem fundamentadas que a frágil “execução da justiça”.
      Quando eleito em 2008, Barack Obama assumiu responsabilidades muito além das inerentes a um chefe de estado, sendo sua figura símbolo -em todos os sentidos- de uma mudança drástica na forma de conduzir um país que nos anteriores 8 longos e polêmicos anos havia sido dirigido por um presidente extremamente conservador , representante de um governo decadente ,cujo principal legado (para não citar outros) foi uma bela crise econômica. Um candidato jovem, negro,democrata, dono de um cobiçado Nobel da paz, muito articulado e não menos carismático tinha tudo, portanto, para reverter a crítica situação política e econômica na qual se encontrava os Estados Unidos e ainda recuperar o bom relacionamento com o eleitorado jovem, tão ameaçado na era Bush.
      Apesar de não poucas previsões em contrário, o “Yes you can man” foi eleito com tranqüilidade, e em sua figura foram depositadas- como previsto- inúmeras expectativas e esperanças de recuperação do país.  O início de sua gestão deixou a população ainda anestesiada pela onda de suposta mudança gerada através de sua eleição, todavia ,com o passar do tempo os norte americanos passaram a não observar nenhuma alteração significativa em sua conjuntura política: os efeitos da crise econômica continuavam ameaçando o país; a guerra do Iraque permanecia um problema sem solução e extremamente caro, e as mudanças propostas pelo presidente com relação ao sistema de saúde dividiam opiniões e geravam descontentamento.Tornava-se, portanto, cada dia mais evidente a falta de entusiasmo da população com relação a seu atual presidente. A popularidade de um líder tão elogiado a época de sua eleição evaia-se gradativamente, e com ela a esperança de manter a ala democrata no governo.

        Subitamente, faltando pouco mais de um ano para a próxima eleição (que terá novamente Obama como candidato), no ano em que o atentado ao World Trade Center completa 10 anos, o Presidente anuncia que Osama Bin Laden,traidor dos traidores, inimigo dos inimigos da população norte americana, foi morto.Obama, apesar de não ter sido diretamente responsável pelo assassinato do líder da Al Qaeda, foi ovacionado como se tivesse trazido pessoalmente a cabeça do terrorista em uma reluzente bandeja de prata, depois de anos de árduas batalhas. O guerreiro Barack foi saudado por inúmeras pessoas dentro e fora da Casa Branca, que comemoraram com festa “sua” conquista em meio a gritos de euforia e ufanismo .
       Uma declaração, sem sombra de dúvidas, meticulosamente encaixada no tempo e no espaço, muito mais conveniente aos interesses de Obama- e conseqüentemente da ala democrata -que da promoção da justiça propriamente dita (Me pergunto: e os Tribunais Penais Internacionais?), que fez com que todos os fracassos econômicos, bélicos e sociais de seu governo fossem devidamente esquecidos  as 0h30  hrs (horário de Brasília) do dia 02 de maio de 2011


PS:Não acredito e nem pretendo insinuar que Bin Laden já foi morto ou ainda permanece vivo. Tais especulações deixo, como já disse acima, para as teorias da conspiração. Apenas queria incitar algumas reflexões com relação ao contexto político em que tal assassinato foi tornado público.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Fatos da Zona 7

      Há quinze dias, mais ou menos, postei aqui no blog um texto fruto da onda de furtos e roubos pela qual a Zona 7 estava passando. Escrevi, entre outras coisas, que a Polícia costuma ser presença constante nas noites de quinta- feira no Kanarinhus, não agindo contudo, com tanta eficiêcia na prevenção da criminalidade no bairro.
      Neste sábado passado (09/04) tive a oportunidade de presenciar um episódio que ilustra perfeitamente esta atuação desequilibrada de nossa força policial, que além de buscar mais a intimidação que a proteção, muitas vezes age de forma truculenta e desnecessária.
      Por volta das 21:00 fui até a lanchonete Hora do Lanche (Av.Doutor Mario Clapier Urbinati) para comer um sanduíche e conversar com alguns amigos. Assim que estacionei o carro e me dirigi a calçada, 5 viaturas atendendo a uma denúncia de som alto desceram a rua na contramão em alta velocidade e pararam na frente da república K-zona, onde acontecia uma festa( 2 viaturas já estavam estacionadas no local).


      Muitos policiais armados com escopetas e cacetetes desceram dos carros e concentraram-se todos na frente do portão da casa. Não tive a oportunidade de averiguar perfeitamente o que donos da casa e policiais falavam, mas pelo que um dos moradores da república me informou depois, estes queriam conversar com algum representante da república, e caso ele demorasse a aparecer iriam invadir. Depois de 15 minutos o sujeito apareceu para prestar esclarecimentos aos policiais, conversou durante algum tempo e foi levado involuntariamente em uma viatura para a delegacia.
    


       Como já disse acima, ainda não tive oportunidade de averiguar perfeitamente o que aconteceu, e inclusive pretendo ir até a república K-zona esta semana para conversar melhor com o pessoal que mora lá.     Contudo,mesmo não sabendo dos acontecimentos na íntegra, as perguntas que ficaram na minha mente e na de muitos jovens que estavam presentes nesta cena foram: Será que uma denúncia de som alto incomoda tanto a ponto de serem necessárias 7 viaturas? Será que som alto constitui uma ameaça a alguém? Afinal, os policias estavam nitidamente prontos para agir.Será que o morador da república precisava ser levado até a Delegacia para "assinar B.O"? E finalmente, a pergunta mais intrigante de todas: Onde estavam estas 7 viaturas quando a Loja de Conveniências ao lado da lanchonete Hora do Lanche foi assaltada e precisou esperar 40 minutos até um carro policial chegar no local?
      Nós realmente gostaríamos de saber.

terça-feira, 29 de março de 2011

Direitos Iguais. Será?

Nos últimos dias a situação crítica da segurança na zona 7 apareceu inúmeras vezes em jornais, blogs e sites. Policiais foram procurados para prestar esclarecimentos, jovens assaltados entrevistados para declarar sua preocupação com a situação e, principalmente, redobrou-se o cuidado na hora de sair ou entrar em casa .Porém, o estopim foi o sequestro de um aluno ao sair do estacionamento da própria universidade, o que fez com que o assunto adquirisse notoriedade dentro do campus e  virasse motivo de revolta para a grande maioria dos estudantes.
Concordo que a situação é realmente alarmante , e é justamente por isso que gostaria de fazer algumas reflexões críticas sobre os possíveis motivos que  propiciaram  esta sucessão de furtos e roubos.
                É do conhecimento de todos que habitam a Zona 7 que um dos maiores problemas que o bairro enfrenta é a coexistência nem sempre pacífica entre jovens universitários e idosos que habitam a região antes mesmo da universidade existir.  A grande maioria daqueles deseja festa (e conseqüentemente barulho) e estes , paz e tranqüilidade (e conseqüentemente silencio), interesses estes completamente distintos, que já deram ensejo a muitas brigas, discussões e polêmicas.
                Com o passar dos anos, os moradores mais antigos incitaram a promulgação de leis que defendessem seus interesses no bairro e reivindicaram um policiamento mais ativo, que “zelasse” pelo devido cumprimento das normas e garantisse a tão almejada tranqüilidade.
 No entanto o que acabou e ainda acaba acontecendo na prática é a proteção constante das reivindicações dos moradores acima citados e a negligência da polícia militar em relação aos interesses dos muitos jovens que habitam a região.  As viaturas (muitas, por sinal) são vistas todas as quintas feiras ao redor do Kanarinhus Bar, porém desaparecem subitamente nos outros dias da semana, deixando os universitários  a mercê de episódios criminosos lamentáveis como os que andam acontecendo. Parecem esquecer que a Zona 7 é uma dos bairros mais visados da cidade, devido a grande quantidade de estudantes que moram sozinhos ou em repúblicas, e que são em áreas como estas que um policiamento constante visando a prevenção e não a repressão faz-se necessário.
O tratamento igual entre antigos e novos moradores não deveria uma necessidade, mas sim um realidade. Torçamos agora para que estes acontecimentos sirvam de exemplo a Polícia Militar, e que aos furtos e roubos seja dada a mesma importância que foi e é dada ao perturbante, porém inofensivo barulho.  

quinta-feira, 10 de março de 2011

Bruna Surfistinha: Um ensaio sobre o preconceito

          Um dia frio e chuvoso em Florianópolis privou-me da praia e das cervejas e levou-me ao cinema. Animei-me com a ideia pois presumi que em uma capital conseguiria assistir o aclamado Biutiful, que na pacata Maringá ainda não demonstrou nem sinal de exibição. Infelizmente,minha expectativa não foi correspondida.Chegamos ao cinema e as opções eram: "Bruna Surfistinha" (grande fila na bilheteria), alguns filmes infantis , "Black Swan" e "O Discurso do Rei" (ambos já assisti). Confesso que com certa resistência e devido a insistência de meus amigos, acabei assistindo ao polêmico "Bruna Surfistinha".
        Duas coisas passaram pela minha cabeça assim que entrei no cinema: primeiro, que Charles Chaplin deveria estar remoendo-se em sua cova naquele momento,pois "Luzes da Cidade" e "Bruna Surfistinha" querendo ou não pertencem a uma mesma indústria visual; Segundo: como é triste ver um cinema praticamente lotado em um filme "como aquele" enquanto Biutiful nem sequer chegou as grandes telas em uma capital.
       Sentei em minha poltrona, e o filme começou. Confesso que me surpreendi muito. Não pela qualidade do filme, que prefiro não comentar aqui, mas sim pelo roteiro e a reação que este provocou nas pessoas ao meu redor e em mim mesma.
       Prostituta, jovem, muita cocaína, conflitos psicológicos, dificuldades financeiras, promiscuidade, e acima de tudo sexo, muito sexo. Acho que todos que compraram seus bilhetes e adentraram a sala do cinema sabiam perfeitamente que estas seriam, basicamente, as características  do filme. Contudo, durante e depois da exibição não ouvi nenhum comentário em relação a estória ou a qualidade do filme. Ouvi apenas frases como: "quantas coisas nojentas", "que pouca vergonha" .
      Até agora não consegui entender o motivo pelo qual  tantas pessoas,conscientemente,  gastaram 10 reais de seus bolsos para assistir uma coisa que condenam tanto. Afinal, filmes como "Aos treze", "Trainspotting", "Christiane F." (que por sinal são bons filmes e tem temáticas muito semelhantes ao Bruna Surfistinha) são rechaçados e dignos de censura para pelo menos 50% dos que estavam dentro do cinema. Claro que o marketing envolvido no filme e a atriz global que o protagoniza são fatores que influenciam muito o público, contudo ninguém é coagido a assistir algo que lhe causa asco. 
              Enfim, depois de refletir sobre os comentários alheios, comecei a pensar no efeito que o filme produziu em mim. Não vou negar que minha vontade de assisti-lo era praticamente nula. Bruna Surfistinha tornou-se uma caricatura nacional durante os ultimos anos, principalmente depois da publicação de seu livro "Doce Veneno do Escorpião"  e para mim o livro jamais deveria ser adaptado para o cinema considerando a grande quantidade de excelentes obras literárias brasileiras que temos no mercado atualmente.
               Porém ver o cinema lotado e  ouvir todas as discussoes geradas pelo filme lembraram-me da frase do sabio professor Antonio Ozai: "O filme é um produto, mercadoria, valor de uso e valor de troca. A produção desta mercadoria específica exige investimentos – público e/ou privado – e envolve uma gama de indivíduos para além dos atores, figurantes e direção. Implica, portanto, utilização de força de trabalho e expectativa de lucro para os produtores e financiadores.". Com certeza a adaptação de Machado de Assis, Guimarães Rosa ou Graciliano Ramos seriam muito mais intelectualmente nobres, porém, muito menos lucrativas.Portanto,  minha análise durante o filme passou gradativamente de preconceituosa a pragmática. Percebi que dentro da limitação cultural do mercado o roteiro adaptado de Bruna Surfistinha saiu-se relativamente bem, considerando que, como já disse no parágrafo anterior, a estória é semelhante a de producões do circuito alternativo, cuja maior caracterista é o publico limitado e específico.
              Para o bem ou para o mal , se não fosse o filme da famigerada prostituta "com cara de surfistinha" talvez nem eu e nem nenhum dos telespectadores presentes na sala de exibição teriam refletido ao menos durante 2 horas sobre coisas alheias aos seus preconceitos.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Quem é pior?

Os que foram ontem ao evento promovido pela “Calourada” do DCE puderam presenciar um show a parte dos anunciados nos panfletos, promovido  por uma aluna recém chegada na universidade. A moça a certa altura da festa subiu no palco, pediu atenção do público e começou a fazer alguns "comentários" sobre suas percepções em relação a vida universitária da UEM. Entre gritos ininteligíveis e outras afirmações, disse que o curso de Direto é extremamente machista (conclusão provavelmente feita devido a apresentação da Bateria Galo Terror, finalizada poucos minutos antes) e que surpreende-se com a submissão das alunas que cantam músicas obscenas e rebolam ate o chão, insinuando por tabela que os acadêmicos do curso que cantaram e dançaram as músicas tocadas pela bateria são desprovidos de senso critico.
Não é por ofensa pessoal, mas sim por senso critico (aquele que supostamente não tenho) que vejo-me na obrigação de tecer alguns comentários sobre este episódio.
 Bom, primeiramente, reconheço que o curso de Direito realmente não adota a análise critica como metodologia, e provavelmente muitos compartilhem da mesma opinião.  Contudo, isto não significa que seus alunos sejam desprovidos dela. Cursar a faculdade de Direito é para muitos (principalmente para os alunos de outros cursos na área de humanas) sinônimo de alienação e soberba, pensamento este um tanto quanto determinista para alunos que passam seus anos de academia criticando darwinismo social, defendendo liberdade de expressão e igualdade de tratamento. 
No entanto o principal questionamento que me fiz depois de ouvir o perturbado discurso da jovem foi se há muitas diferenças entre o estereótipo da “loira gostosa e alienada” existente em toda boa novela das 9 e o da “intelectual crítica-marxista-revolucionaria”, que é claro, condena os alunos de Direito. Não são nada mais que dois extremos igualando-se, infelizmente, através da ignorância.
Quanto as músicas da torcida, são cheias de palavras obscenas. Mas, e daí? Isto não significa que a vida de cada um que as canta resume-se a “mulherada do pré coito” ou “ vai se foder Cesumar” e nem muito menos que as mulheres submetem-se ao que rezam as letras . Acredito que aqueles que pulam e extasiam-se cantando tem acima de tudo uma vida ,que implica em compromissos, responsabilidades, preocupações, e portanto tem pleno direito de divertirem-se da maneira que melhor lhes aprouver.       
     Enfim, gritar leviandades em um microfone não é uma atitude digna de aplauso, muito pelo contrario, é tão condenável quanto qualquer comportamento daquela patricinha da novela, tão difamada e “criticada”.  

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

A realidade também é arte

Lendo os textos que postei aqui anteriormente, percebi que tenho escrito sempre sobre grandes filmes, diretores e roteiros. Portanto,cometi o mesmo erro que a grande mídia e a maioria dos críticos de cinema costumam cometer: negligenciei uma das mais interessantes e vastas ramificações do cinema.O documentário.
É claro que a procura por filmes que mostrem situações genuinamente reais e que tem como fim o próprio meio -ou seja, que propõe reflexões sobre a realidade através da própria realidade- será sempre muito menor que a busca pela ficção. Inclusive, o cinema sempre foi visto por muitos espectadores e diretores como um território de fuga da realidade e de livre prevalência da arte e da criatividade.
Talvez seja justamente este raciocínio que muitas vezes afasta o publico dos documentários. Assistir a um filme de não ficção é como implantar um espelho na tela do cinema, o que vemos nem sempre é bonito, agradável e sublime. Ou, pode até ser belo e satisfatório, mas a imagem refletida por muito tempo torna-se, para muitos, tediosa.
 É difícil educar os olhos a não prestar atenção somente na estética. A realidade pode mesmo não ser o mais prazeroso a se assistir. Contudo, os que aprendem a observá-la faturam um grande volume de conhecimento e senso crítico, tornando-se assim personagens da vida. A consciência do real proporciona a oportunidade de atuar no estúdio de gravação do cotidiano.
Enfim, não pretendo me alongar neste post. Meu intuito é apenas chamar atenção e incentivar meus poucos leitores a conhecer a vastidão de bons documentários a que temos acesso.

  Para os interessados, um ótimo começo: 

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Além da vida: a redenção de Clint Eastwood

Um filme dramático contemporâneo surpreende e chama atenção quando consegue atrair o público não pela linguagem apelativa, mas sim pela originalidade na forma de conduzir a trama. A linha entre o clichê sentimental e a vanguarda é muito tênue.
O diretor e ator americano Clint Eastwood parecia ter-se esquecido de lições tão básicas, inerentes a um filme de respeito. Sua ultima produção/direção do gênero (Gran Torino, 2008) foi um desastrosa sucessão de tópicas cinematográficas, regadas a atuações sentimentalóides (inclusive a dele) e cenas previsíveis. Um roteiro aparentemente delicado e diferente escondeu uma direção fraca e um protagonista desconfortável e limitado em seu papel.
Eastwood em Gran Torino: um "tough guy" interpretando o bom moço
Há pouco, contudo, Eastwood teve a oportunidade de redimir-se com Além da Vida (Hereafter), que veio para retificar todas as más impressões causadas por Gran Torino.
O filme procura nitidamente sair de qualquer padrão relativo a películas que tratam da vida após a morte. Através de histórias convergentes, pode-se ter uma noção desprovida de apelações religiosas e místicas de como diferentes indivíduos encaram experiências relativas ao tema. Clint Eastwood teve a sábia conduta de não criar situações fantásticas e tendenciosas, que poderiam cair no erro de atrair apenas o público religioso ou adepto das teorias “do que vem depois”. O que o espectador observa é que propositalmente, ou não, foram escolhidas os casos mais freqüentes dos ditos contato com a morte: uma experiência de quase morte, a mediunidade e a misteriosa ligação entre irmãos gêmeos. 
O resultado foi um filme original e maduro que emociona e instiga a reflexão, tendo – infelizmente- como único defeito a trilha sonora, que com seu sentimentalismo e apelo excessivos típicos de filmes do século passado, quebram a profundidade de muitas cenas.  

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

O Turista, engraçado?

Como de costume, tento assistir anualmente os filmes indicados ao Globo de Ouro e ao Oscar nos cinemas para poder analisar mais precisamente as características de cada um e a coerência (ou não) dos eleitos ao título. O que mais recentemente vi na grande tela foi “O Turista”, estrelado por Angelina Jolie e Johnny Depp e indicado ao Globo de Ouro nas categorias melhor filme, atriz e ator de musical /comédia
            O filme é visualmente belíssimo. Veneza foi uma ótima escolha do diretor Florian Henckel Von Donnersmarck para tornar o filme charmoso e envolvente acentuando o “clima 007”. O roteiro é interessante, porém peca no quesito originalidade. Temos muito dinheiro, glamour, roubos misteriosos, russos (SEMPRE!), tiros inesperados e revelações surpreendentes no final. Tudo como manda o figurino de um bom filme de mistério e espionagem.
            Contudo, o que talvez torne esta grande super produção diferenciada são as atuações. Principalmente de Angelina Jolie, que aparece em sua versão mais elegante e “sexy”. Seu cabelo está impecável, as roupas meticulosamente escolhidas para valorizar todos seus atributos, a voz tem um tom nobre  e os olhares são sempre irônicos e “oblíquos”.
Infelizmente, o mesmo não pode ser dito de Johnny Depp, que definitivamente não se encontra em sua melhor forma. Sua expressão corporal não chama atenção; o rosto está flácido e surpreendentemente neutro e os cabelos parecem resquícios saudosistas  de “Piratas do Caribe”.Seu desempenho, no entanto, é  bom, considerando que sua personagem é um  suposto turista qualquer, abordado inesperadamente por Jolie e que se vê envolvido em situações absolutamente estranhas ao seu cotidiano pacato de professor de matemática.
Angelina, maravilhosa. Depp, nem tanto.

O filme, como já disse anteriormente, é interessante. Porém, falta química e tensão sexual entre os protagonistas, o que é essencial para o êxito de um longa deste gênero. Ao assisti-lo vemos dois atores cheios de potencial, mas em total desarmonia, gerando uma grande decepção nos espectadores.  
            Quanto as indicações recebidas pelo filme e por Depp e Angelina, considero uma das maiores contradições cometidas pela critica nesta edição do Globo de Ouro. Qual é a lógica de premiar um filme de ação/ romance por características inerentes a filmes cômicos? O Turista, definitivamente, não é um filme cujo objetivo maior é o humor. Seu enredo gira em torno de um grande mistério, buscando instigar o público a desvendar qual será o desfecho da história e não a dar risadas. Cenas cômicas são eventuais, mas não principais.
            Talvez a combinação de dois atores tão badalados tenha gerado expectativas precipitadas quanto ao resultado do longa, intimidando indiretamente indicações bizarras. Aguardemos ,agora, o Oscar.       

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Gordard, o mestre das ''artes''

Não pretendo fazer aqui a análise de nenhum filme em especial, nem emitir meu parecer crítico sobre Gordard. Considero muito pretensiosa e leviana qualquer crítica feita a um diretor tão complexo e repleto de nuanças que (ainda) desconheço. Meu intuito é apenas chamar atenção de possíveis ou atuais espectadores para que observem os detalhes presentes em seus filmes, e principalmente os recursos utilizados no envolvimento do público com o roteiro do filme.  

O cinema é comumente conhecido como a ‘sétima arte’.Portanto, depois de teatro, música, dança, pintura, escultura e literatura teríamos o cinema, segundo muitos, a única das 7 artes capaz de reunir todas em uma só. Contudo, é notório que cada delas possui suas características peculiares, e um ser humano levaria anos, se não uma vida inteira, para conhecê-las e aplicá-las todas com certa qualidade. Como então o cinema seria capaz de reunir as 7 artes com coerência e refinamento artístico? Talvez Jean-Luc Godard seja um dos primeiros cineastas que conseguiu através de seus filmes responder perfeitamente a esta indagação.        
  Assistir a um filme de Gordard significa atravessar 90 minutos (em média) de muito esforço mental. Muitas vezes frases parecem desconexas, não entende-se o porquê de uma música tocando neste ou naquele momento, ou qual o motivo de uma cena acabar subitamente e iniciar-se outra.
Egocentrismo do diretor? Vontade incontrolável de criar novos padrões  cinematográficos? Não. Pelo contrario. Jean- Luc Gordard procura utilizar-se de todos os recursos disponíveis para enaltecer e tornar pleno o roteiro de seu filme. Cada música, frase,imagem ou diálogo são peças de um grande quebra cabeça que forma o conceito do filme na mente do telespectador. Enquanto a palavra ‘FIN’ não aparece na tela é impossível entender plenamente o seu objetivo, e é justamente por isso que seus filmes são muitas vezes mal compreendidos. Falta a muitos sensibilidade para perceber que Godard ‘pincela’ muitas vezes cada uma das 6 artes para formar ao final uma belíssima pintura.       
Paciência talvez seja a virtude mais necessária a quem queira conhecer mais profundamente tal diretor. No entanto, depois de superada a estranheza causada por tanto volume de informação condensada e apresentada de uma maneira não muito comum aos nossos olhos, o que Jean- Luc Gordard garante em seus filmes é uma forma artisticamente riquíssima de apresentar uma história -seja ela política, romântica, ou religiosa- além da mais genuína demonstração de como é mesmo possível condensar as 6 artes em apenas um filme sem perder a excelência.    

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Reflexões sobre GLEE

Aos amantes do seriado GLEE, peço minhas sinceras desculpas. Principalmente a meus grandes amigos e amigas, que sei gostarem muito da série. Esta madrugada, no auge de minha insônia, naquela troca incessante de canais, resolvi parar na FOX e assistir algum seriado que estava passando, na tentativa frustrada de pegar no sono. Enfim, o sono não veio, e iniciou-se um episódio de GLEE no canal. Pensei cá com minha insônia: ouvi tantos comentários sobre esta série, mas nunca tive a oportunidade de assistir um episódio por inteiro. Partindo do pressuposto de que não me atrevo a falar do que não conheço, seria leviano julgar mal algo que não vi nem sequer uma vez. Mas estas críticas podem ainda lhes parecem um pouco “precipitadas”, afinal, não assisti a série inteira. Mas já cometi o grande esforço de assistir a um episódio até o fim.
Confesso que me assustei.
Personagens extremamente superficiais, diálogos que beiram a infantilidade, músicas interpretadas a La High School Musical e muito mais.
 O episódio em questão era sobre “o poder de Madonna”, e a influência que sua carreira/músicas/vida pessoal/imagem exercem sobre as mulheres (como se todos estes fatores se resumissem em apenas um adjetivo: poder) enfim, uma diretora pseudoturrona que ensaia meninas trajadas de líderes de torcida diz que Madonna seria a grande responsável por sua postura “firme e determinada” e todas as garotas deveriam sentir a mesma firmeza e determinação que a cantora emana. Neste interregno o  professor de espanhol e diretor do clube GLEE (?) também toma conhecimento da idéia genial (?) da Madonna lover e decide iniciar ensaios visando a interpretação vocal das músicas da diva do pop. Os meninos do grupo,previsivelmente, oferecem resistência. As meninas acham-os preconceituosos e machistas e subitamente começam a saltitar cantando uma música de Madonna. Enquanto isso, a diretora toma conhecimento dos ensaios do professor e vai, tomada de muita raiva, dizer a ele que o direito de ensaiar músicas da cantora é apenas DELA, pois Madonna a pertence.
 Estranho.
Mas tem mais, os meninos depois de um súbito convencimento, decidem ensaiar as músicas. ENSAIO. Ensaio- mesmo em musicais que costumam dramatizar (no bom sentido) cenas normalmente sóbrias- significa algo informal,um processo que implica em aprendizagem da música, o tom em que ela será interpretada etc. Porém, GLEE, seriado muito vanguardista, quebrou com esta concepção conservadora de ensaio. Os alunos saem correndo pela escola, pulando e cantando sem qualquer necessidade de repassar novamente um refrão, ou começar tudo de novo. Simplesmente pronta. A apresentação da música, no ensaio, está acabada, perfeita.
É importante ressaltar também o drama que acontece nas intermitências dos ensaios e das apresentações saltitantes. Uma conselheira vocacional insegura em relação a sua vida sexual (desprovida do poder de Madonna, claro) que se sente impotente por não poder dar conselhos sobre a primeira transa a suas alunas, além da diretora pseudoturrona (a Madona lover) que é cheia de traumas psicológicos enraizados na sua infância sofrida, marcada por pais caçadores de judeus, que abandonaram sua prole, e ela, a irmã mais velha, se viu obrigada a cuidar das outras e não teve tempo para preocupar-se com sua aparência, e por isso tornou-se amarga e mal arrumada.
Enfim, foi demais pra mim, prefiro algo menos óbvio.
Troquei de canal e assisti ao final de um programa sobre o fotografo francês, Karl Langerfeld. Consegui dormir mais tranqüila, pelo menos.

PS: As cenas descritas aqui não resumem todo o episodio. Procurei selecionar apenas as mais absurdas.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Durval Discos, um Cult em potencial.

Dando continuidade ao projeto de férias, cujo objetivo é comentar alguns bons filmes que tive oportunidade de assistir durante meus 2 ociosos meses, optei hoje por Durval Discos, filme brasileiro, da diretora Ana Muylaert lançado em 2002,e que apesar de conquistar muitos prêmios no Festival de Gramado daquele ano, não chegou a ser um grande sucesso de público.
Durval, solteirão de meia idade que ainda mora com sua mãe, insiste em manter sua loja de LP’S ainda em funcionamento, apesar da notória decadência dos bolachões e a desenfreada ascensão dos CD’S. Os clientes são escassos, e os poucos que aparecem na verdade estão a procura de CD’S, deixando Durval extremamente irritado com a falta de interesse dos consumidores por seus tão bem conservados discos. Concomitantemente, sua mãe, já idosa e com dificuldades para cuidar da casa, contrata uma empregada doméstica para ajuda-la nos serviços mais pesados. A moça trabalha na casa por alguns dias, no entanto, subitamente desaparece, deixando uma graciosa menina (Kiki) – segundo ela, sua filha- para que Durval e sua mãe tomem conta. A senhora regozija-se, afinal, há muito não via sua casa tão alegre e colorida. A garotinha apega-se cada vez mais aos seus ‘tios’ e vice-versa, muitos presentes para ela são comprados e apesar de algum desconforto causado pelo surgimento inesperado da criança, a felicidade reina na casa. Subitamente, porém, Durval e a mãe descobrem que a doméstica na verdade seqüestrou a menina, e acabou sendo assassinada durante uma tentativa de fuga. Inicia-se então um clima sombrio e surreal no filme, marcado pela gradativa loucura da mãe de Durval em evitar a devolução da menina para seus verdadeiros pais tentando mante-la em sua casa a todo custo. 
Durval, Kiki e Carmita em uma das mais simpáticas cenas do filme
  
Utilizando-se de duas situações completamente distintas ,porém, interligadas e também de uma pitada de non-sense de extrema criatividade o que o filme de Ana Muylaert procura retratar é a dificuldade que temos em abandonar velhos hábitos, opiniões e vícios, e a luta incessante para mante-los intactos, apesar da insistência do tempo em desfazê-los. Durval não aceita que a era dos LP’s acabou, insiste em manter sua loja decadente e discute com clientes que dizem que ele deve modernizar-se e passar a comercializar CD’s. Sua mãe, Carmita, prefere enlouquecer a deixar Kiki-que trouxe tanta inovação e felicidade para a sua monótona vida- ir embora para seu verdadeiro lar. O desenrolar do filme obriga indiretamente um personagem a desfazer o mundo de ilusões em que o outro vivia; Durval chama a polícia que entrega a criança para seus verdadeiros pais e as loucuras de sua mãe acarretam na demolição de sua loja. 
Filme curto, porém muito bom. Propõe uma discussão muito delicada de uma maneira bem simples e criativa, acrescentado um toque de surrealismo e humor, poupando-nos,assim, de um filme longo com rebuscamentos desnecessários.
Bem, partindo do pressuposto que filme Cult é aquele que na época de estréia é esquecido pelo público, mas alguns anos depois é relembrado, reanalisado e reverenciado por novos cinéfilos, temos com certeza um futuro Cult novinho em folha. Recomendo!

domingo, 9 de janeiro de 2011

A cultura lamenta..

Há uns dois dias, mais ou menos, li no twitter uma notícia da revista Carta Capital anunciando o fechamento do Cine Belas Artes- cinema de rua localizado entre a Av. Paulista e a Consolação, em São Paulo- devido reivindicação do proprietário do prédio para a construção de uma loja no local. Ontem novamente, agora no Jornal Nacional, o fim do tradicional cinema foi tema de reportagem, juntamente com o fechamento da Modern Sound , famosa loja de discos e, posteriormente de CD’s localizada no coração do Rio de Janeiro, e classificada como uma das melhores do mundo no ramo.

Cine Belas Artes e Modern Sound, respectivamente. 
A Modern Sound infelizmente, não tive oportunidade de conhecer. E nem terei. Contudo, consegui visitar a tempo o Cine Belas Artes, um espaço genuinamente artístico, que comunga – ou melhor, comungava- o cinema dito comercial e os clássicos do Cult, o antigo e o moderno, o romântico e o assustador. Além de possuir uma lojinha com ótimos filmes, e livros sobre cinema e um café para encontrar amigos, discutir idéias e comentar os filmes que serão ou foram assistidos.  
Tenho certeza que ambos os estabelecimentos não fecharam suas portas por falta de público cativo.Pelo contrário, a matéria do jornal inclusive mostrou muitos indivíduos revoltados, e dispostos a fazer abaixo assinados e despedidas para tentar comover os proprietários e evitar ‘o pior’.
No entanto, me pergunto, por quanto tempo ainda lugares como estes poderiam resistir funcionando, considerando o perfil atual de nossa sociedade? Quero dizer, quem ,hoje em dia, ainda quer saber de ir a um cinema (não ao cinema do Shopping) assistir algum filme sem mega efeitos especiais, produzidos sem a famigerada tecnologia do 3-D e desprovidos daqueles odiosos apelos emocionais e psicológicos? Quem ainda compra CD’s ou sente prazer em ir a uma loja ouvir lançamentos ou mesmos clássicos da música? Afinal, para que comprar CD’s se existe a internet a um power de distância?
Claro,ainda existem muitos ‘loucos’ que não abrem mão de freqüentar um bom cinema e de manter uma bela coleção de CD’s. Porém são muito poucos se comparados ao número de consumidores em potencial de nosso país. Práticas como estas já tornaram-se ‘retro’- segundo a nova terminologia- e seus praticantes pessoas nostálgicas, que vivem presas ao passado e não conseguem entregar-se aos tempos modernos.
O que me assusta- e comove- neste processo todo, é que o fechamento destes dois marcos da cultura brasileira não significa apenas o fim de mais um cinema ou mais uma loja. Mas sim a ilustração da atual decadência do interesse dos indivíduos pelo consumo da arte e também a falência de estabelecimentos que tenham como única finalidade promove-la. O paradigma do comércio artístico renasce, fragmenta-se; o cinema está no Shopping; a música na internet; os CD’s no supermercado.
A prática de freqüentar um lugar onde pode-se assistir a um filme, discutir ideias com pessoas interessadas no assunto, comprar livros sobre o tema e ainda ouvir uma boa música de fundo ou de adquirir um CD e ter a oportunidade de encontrar o intérprete das músicas que você gosta ao lado, comprando e ouvindo músicas também, estão ficando cada vez mais escassas e desvalorizadas. Tudo é mais rápido, funcional, e impessoal. Compra-se frango, toalhas de banho e DVD’s no mesmo lugar.
Concordo que o tempo torna-se cada vez mais escasso, e que temos que otimizá-lo e aproveitá-lo da melhor maneira possível. Contudo, tratando-se das discussões, reflexões, debates, enfim, de todo vasto conhecimento que estabelecimentos com o perfil de Cine Belas Artes e Modern Sound promoveram não deve-se poupar, mas sim gastar todo o tempo possível.    

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Magical Mystery Tour: Um salve a coerência

Um ano novo começa e as férias continuam. Minha escolha de hoje é um tanto quanto peculiar,um filme engraçado e leve,que muitos inclusive chegam a classificar como “debilóide”. Contudo, posso afirmar que nenhum filme produzirá em você, telespectador e beatlemaníaco, sensação de nostalgia e alegria mais sublime que Magical Mystery Tour.
 Produzido e dirigido pelos próprios Beatles (devido a morte do empresário da banda, Brian Epstein) e lançado em 1967, o filme, na época de sua estréia, foi rechaçado pelos críticos britânicos. Frases como: “Qual é o sentido deste filme?” e “ Onde está o roteiro” foram macicamente publicadas pelas revistas e jornais ingleses.
Bem, o filme de fato não tem um roteiro,- pelo menos não segundo as “normas vigentes” –e muitas cenas realmente podem não fazer sentido algum para o telespectador. No entanto, qualquer amante de Beatles conhece muito bem a discografia de seus ídolos, e sabe que as músicas presentes em Magical Mystery Tour foram escritas em uma das fases mais psicodélicas da banda.
 A música “The Walrus” é a melhor forma de exemplificar minha afirmação. O ouvinte que encontrar algum sentido oculto em frases como: “Sitting on a cornflake/Waiting for the van to come/Corporation tee shirt/Stupid bloody Tuesday/Man, you've been a naughty boy/You let your face grow long”, por favor, comunique-me, pois meu raciocínio foi limitado demais para enxergá-lo.
The eggmans  +  The Walrus
Esperar o que,afinal, de um filme que foi baseado em faixas com tais características? Algo organizado, complexo e austero? Isso sim não faria sentido algum. 
Magical Mystery Tour gera em quem o assiste justamente a impressão de ter ilustrada perante os olhos a sensação que as músicas produzem no ouvinte. Traduz em imagens as risadas provocadas pelas frases desconexas das músicas, as cores do “mágico e misterioso” ônibus que conduz os viajantes, enfim, toda a leveza e humor que são inerentes ás letras.

O resultado não poderia ser melhor.O filme diverte, surpreende e cria uma certa “saudade” dos áureos anos de Beatles e principalmente de sua genialidade musical. Percebe-se nitidamente a grande harmonia e intimidade que os integrantes (ainda) desfrutavam na época das filmagens. 
           Enfim, parabéns aos Beatles pela sua “mágica e misteriosa” coerência!


Ps: Para quem eventualmente for visitar Londres, ainda hoje é possível fazer passeios com uma réplica do ônibus utilizado no filme.