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segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Noé em plena forma

Já faz alguns meses que abandonei os textos comentando filmes que assisti recentemente ou que gosto muito. Talvez as pesquisas acadêmicas tenham direcionado minhas leituras e meu tempo para assuntos que apesar de muito interessantes e importantes, não possuem relação (ao menos evidente) com a sétima arte. 

Assisti filmes e documentários excelentes nesse meio tempo, muitos deles essenciais à compreensão da arte cinematográfica e do contexto social contemporâneos. Prometo falar sobre eles em uma próxima oportunidade.

Na verdade, o motivo que de fato me levou a retomar os escritos sobre cinema foi uma obra prima, que assisti há poucos dias: o filme Enter the Void, de Gaspar Noé. Apesar da falta de tempo e do envolvimento com outros temas, não pude parar de pensar no filme desde que o assisti.  Pareceu-me impossível silenciar a respeito de algo tão inusitado e genial. Tudo na película é extasiante, desde os créditos iniciais (que segundo Tarantino estão dentre os melhores da história do cinema) até a última cena. Características, por óbvio, típicas de um bom Gaspar Noé.

Embora  tenha o  descoberto  apenas no inicio de 2012, a estréia mundial de “Enter the Void” se deu em meados de 2009, apos ser apresentado nos festivais de Cannes, Sundance e Toronto. O filme, utilizando-se de alguns recursos de Flashback, nos mostra a história de Oscar e sua irmã Linda, cujas vidas foram marcadas por episódios trágicos (morte dos pais em um brutal acidente de carro, encaminhamento dos irmãos para orfanatos diferentes) e “desviantes”,  (Oscar, além de viciado, acaba por se tornar traficante de drogas e Linda, polydancer),  que resultaram no acontecimento principal do filme: o assassinato de Oscar na cidade de Tóquio (cidade em que mora há algum tempo com sua irmã), que simboliza o marco inicial de uma extasiante e derradeira viagem em conjunto com o expectador por seu além/pós morte.

Lendo um pouco sobre o assunto, verifiquei que existem várias especulações afirmando que o diretor franco-argentino pretendeu personificar no filme o “ Livro Tibetano dos mortos” (emprestado a Oscar por seu amigo Alex, logo no inicio do filme) que, em resumo bem leigo, defende a existência de vida após a morte e a possibilidade de morrer de forma consciente  e proveitosa para o despertar espiritual. O livro, a contragosto dos estudiosos, é comumente associado a experiências psicodélicas resultantes do uso das mais diversas drogas, fato que fica bem evidente durante todo o filme.  Antes de morrer, Oscar tem uma breve conversa autoexplicativa sobre o livro com seu amigo Alex, que afirma que os ensinamentos descritos no “Livro tibetano dos mortos” podem resultar na “última grande viagem”.

Com ou sem  Livro Tibetano dos Mortos, sabemos muito bem que um filme que mistura especulações sobre vida após a morte, sexo, efeitos de psicoativos (em grande escala) com tragédia familiar, teria tudo para incitar inúmeras discussões religiosas, morais e dogmáticas que inevitavelmente acabariam por ofuscar sua qualidade. Porém, Noé sabiamente acrescentou um artifício que neutralizou todos estes possíveis problemas e acabou ,literalmente ,por anestesiar sua platéia, que através do brilhante manuseio da câmera passa a assumir o lugar de personagem principal, deixando todas as questões ideológicas de lado . Durante todo o tempo somos levados - em uma viagem panorâmica, extremamente incômoda e psicodélica- a transpor paredes, participar de diálogos e cenas picantes, entrar em bares e boates, voar pela cidade de Tóquio , participar da infância sofrida dos dois irmãos, enfim, acabamos por nos tornar Oscar. E garanto a vocês: o efeito da experiência é único e genial.

Apesar de fiel amante, não possuo nenhum grande conhecimento técnico sobre cinema. Li alguns livros, assisti alguns documentários sobre produção, história e estética cinematográfica, mas nada muito sério. Ainda assim, o pouco que sei ja é suficiente para compreender que o novo filme de Noé explorou recursos e temas ate então adormecidos e que conseguiu reafirmar com excelência sua maior qualidade: o manuseio visceral de tensões físicas e psicológicas. Além disso, sua película foi, mais uma vez, uma grande contribuição no sentido de revolucionar a maneira como os espectadores apreendem o que esta sendo exibido na grande tela, provando que em tempos de tecnologia 3D e saturação de computação gráfica, sensibilidade artística e boas ideias ainda são as características verdadeiramente essenciais à um bom filme. 

Recomendo!

Créditos para o amigo (e cineasta) Julyano Abnner, que me apresentou este grande filme.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Os desafios do raciocínio público

Leitores, perdoem minha negligência. Tenho novamente ocupado grande parte do meu tempo com assuntos não muito interessantes – para não dizer burocráticos- (colegas de classe que o digam) e acabei por largar o blog às moscas. Pretendo retomar as atividades hoje, espero que em grande estilo, refletindo um pouco sobre um assunto que muito me intriga e apaixona: o limite da atuação repressiva dos agentes públicos e seus desdobramentos.
O texto é fruto de um artigo que li há aproximadamente um mês no jornal O Estado de S. Paulo , intitulado “ Bandidos travestidos de autoridade”, escrito pelo delegado da Polícia Federal Jorge Barbosa Pontes.
O artigo questiona, dentre outras coisas, o papel que os agentes públicos corruptos representam na manutenção do crime organizado (mais especificamente o tráfico de drogas), e afirma que a corrupção de tais agentes é flagelo muito mais destrutivo que o próprio tráfico de drogas nos morros: “Neste momento é importante para o contribuinte entender que o policial corrupto é tão ou mais vil e deletério que o traficante de drogas ou de armas. Se retirarmos das ruas os traficantes sem alvejarmos os agentes públicos comprometidos que os mantêm e os protegem, o trabalho estará longe de se completar. É como querer reformar os móveis de uma sala e tirar apenas a poeira do mobiliário”.
A opinião do delegado, analisada sob o ponto de vista prático, é extremamente pragmática e condizente com a realidade. De fato observamos diariamente em noticiários, publicações e redes sociais que casos de corrupção dentro de corporações policias, poder judiciário, executivo e legislativo relacionam-se diretamente com a intrincada rede do tráfico de drogas, além de corroborar para a descrença da população nas instituições Estatais. 
No entanto, apesar do artigo ser esclarecedor em muitos aspectos, esquece de levar em conta alguns requisitos históricos, econômicos e sociais[1] essenciais a compreensão do tema, e revela um erro crasso –além de proposital- cometido pela grande maioria de nossos governantes e gestores de políticas públicas no que tange a complexa estrutura do crime organizado (mais precisamente aquele ligado ao tráfico de drogas): a corrupção não é necessariamente a causa principal e nem a única que sustenta o tráfico de drogas em seus moldes atuais. Esta é uma visão parcial do problema, que se encontra em evidência principalmente depois do sucesso conquistado pelo filme Tropa de Elite 2- O inimigo agora é outro.
As nefastas práticas abusivas executadas por policias e outros agentes governamentais, tais como tortura, execuções e espancamentos, pouco discutidas na grande mídia e tidas muitas vezes como naturais e heróicas[2] possuem também papel fundamental, exercendo forte influência  na manutenção deste problema social.
Para iniciar uma discussão um pouco mais abrangente sobre o tema, há que se diferenciar duas palavras tidas por muitos como sinônimos em nosso cotidiano: vingança e retribuição. A função do Estado- representado na seara criminal pela polícia preventiva, judiciária, Poder Judiciário e Ministério Público- é a de julgar e aplicar – ou não- penas que retribuam[3] de forma proporcional a conduta lesiva efetuada pelo criminoso. Para tanto, quando do julgamento e aplicação das penas deve haver respeito a procedimentos e princípios positivados em códigos e leis, que estabelecem as diretrizes necessárias para que a retribuição estatal não extrapole seus limites e se torne arbitrária e prejudicial. Enquanto que a vingança, por outro lado, devido a seu caráter pessoal e imprevisível, é prática absolutamente incompatível com qualquer ação pública ou estatal. Seu fundamento é a retribuição desmedida, ilimitada, proporcional apenas a subjetividade do agente que a executa.
Aplicando estes conceitos a episódios cotidianos de violência e repressão, endereçados a parcela marginalizada de nossa população, com os quais temos contato corriqueiramente[4], fica evidente que em inúmeros casos é praticamente impossível distinguir ações retributivas de ações vingativas, principalmente em se tratando de práticas policiais. Tais práticas muitas vezes vêm acompanhadas e legitimadas por discursos de defesa da justiça e da ordem Estatal, que enaltecem um comportamento completamente ilegal e truculento por parte dos agentes estatais.
 Conclui-se daí que infelizmente há arraigada em nossa cultura política a crença de que “bandido bom é o bandido morto” [5] (lógica vingativa, por excelência). Para muitos brasileiros é preferível executar, torturar e ocultar o corpo de um inocente – ou até mesmo de um culpado- a fim de exibir a captura de um grande traficante como troféu e dar uma boa “lição” (?) no criminoso, a obedecer ao que foi estabelecido por nossas leis, que quando aplicadas acabam sendo classificadas como “ direitos humanos para vagabundos”.   
Ora, se nem mesmo os “agentes máximos da segurança estatal” aplicam de forma igualitária princípios básicos de um Estado Democrático de Direito, tais como o direito a vida, ao devido processo legal, ao contraditório, a dignidade da pessoa humana  etc. e muitas vezes “fazem justiça com suas próprias mãos”, como esperar que indivíduos que em sua grande maioria não tiveram qualquer tipo de educação cidadã ou jurídic,a e que convivem com tais práticas diariamente, não as assimilem (nem que seja de forma inconsciente) e as consideram passíveis de reprodução?     
           Bem, sei que a reflexão é árdua e implica na quebra de uma série de paradigmas(e preconceitos) infiltrados em nossa mente. Deixo-a, portanto, a cargo da sensibilidade de cada leitor.
Quanto a mim, acredito que de fato a corrupção estatal tem grande responsabilidade no fomento do tráfico de drogas e do crime organizado como um todo. Porém, enquanto nossos agentes estatais não repensarem sua forma de atuação e continuarem agindo de forma privada no trato de questões eminentemente públicas, que devem ser pensadas sob a ótica de um Estado Democrático de Direito, continuaremos fomentando diariamente pequenos e perigosos estados de exceção [6], com ou sem corrupção.


[1] O livro “Abusado- O Dono do Morro Santa Marta” de Caco Barcellos (Editora Record, 560 paginas) oferece uma visão fantástica, minuciosa e desprovida de preconceitos e lugares comuns sobre o trafico de drogas no Rio de Janeiro.
[2] Recordemo-nos do filme “Tropa de Elite”, que consagrou o truculento Capitão Nascimento como herói nacional.
[3] Importante ressaltar que a retribuição não e tida com a única função da pena. Existem inúmeras teorias e escolas que refutam tal entendimento. VIDE Capitulo V- As funções da pena no Estado Democrático de Direito, inserido no livro “TRATADO DE DIREITO PENAL, Parte geral” de Cesar Roberto Bittencout.
[4] http://noticias.terra.com.br/brasil/noticias/0,,OI5468347-EI5030,00-Rio+de+Janeiro+ocupacao+da+favela+da+Rocinha+e+iniciada.html
[5] VIDE livro “JUSTICA-Pensado alto sobre violência, crime e castigo” de Luiz Eduardo Soares -autor de Elite da Tropa 1 e 2. (Editora Nova Fronteira, 196 paginas)
[6] VIDE livro “Estado de Exceção” do filosofo italiano Giorgio Agambem (Editora Boitempo, 142 paginas)

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

E Maringá foi ao teatro..


      Não sei se pela peça, não sei se pelo preço (ou melhor, a falta dele..) ou se pelo feriado, mas muitos maringaenses  deixaram o conforto de suas casas para ir ao teatro nesta segunda feira (finalmente!). Lamartine Babo, encenada pelo CPT – SESC de São Paulo no  Teatro Marista, foi a peça escolhida pela organização para oficialmente dar início ao 1° Mostra de Teatro Contemporaneo de Maringá, que começou segunda feira, dia 15/08, e vai até 28/08  .


      O que se observou na noite de estréia foi um público um tanto quanto desacostumado, porém extremamente atento e entusiasmado com o espetáculo.  As canções de Lamartine Babo, interpretadas com muita graça e harmonia pelo CPT-SESC, foram capazes de envolver a platéia e cativar inclusive os que nunca haviam ouvido falar do compositor carioca. Confesso que a sensação de ver o palco de um teatro que costuma ser utilizado apenas para congressos, shows e peças de “renome” (todos um tanto quanto caros, diga-se de passagem) preenchido por atores relativamente desconhecidos, encenando uma peça gratuita e igualmente desconhecida para o público leigo foi sublime.
      A iniciativa de oferecer uma mostra de teatro a preços tão atrativos e com tamanha qualidade artística em uma cidade do interior é com certeza digna de muita admiração e incentivo. Porém,uma questão muito importante e que ainda permanece pendente (e que provavelmente permanecerá até o final do Mostra) é: será que ela será capaz de criar o “hábito do teatro” no maringaense ou atingirá apenas um público específico e setorial, como a maioria das produções artísticas que temos por aqui? Pergunta um tanto quanto capciosa, mas explico:
       Não foram poucas as vezes em que ouvi reclamações sobre a falta de “vida cultural” em Maringá. Segundo muitos, falta a nossa cidade peças de teatro, apresentações de grupos de dança, stand up’s.. Enfim, faltam opções de entretenimento além das festas universitárias e das caras e esporádicas produções importadas pelas grandes rádios da cidade. Em contrapartida, não foram poucas também as vezes em que fui a projetos como o “Convite ao Teatro”, “Convite a Música”, “Convite a Dança”, “Projeto um outro olhar” ou a apresentações do TUM e encontrei alguns gatos pingados na platéia. Inclusive, muitas destas pessoas que criticaram a rotina cultural de Maringá sequer sabiam da existência de tais iniciativas. E é justamente aqui que vem a tona a questão do hábito do teatro que incitei no parágrafo acima.
      Apesar de todas estas iniciativas serem periódicas e gratuitas (ou a preços simbólicos) e contarem com divulgação no jornal local (tanto na versão televisionada quanto na escrita) e também em murais na Universidade Estadual de Maringá, o número de pessoas que costuma freqüentá-las é mínimo. Parece existir na parcela da população “amante das artes” em Maringá uma tendência a valorizar e atribuir qualidade somente a produções famosas, importadas de grandes centros como Rio de Janeiro e São Paulo e a ignorar o que é feito por aqui. Não existe vontade de freqüentar o espetáculo pelo que ele proporciona , mas sim pelo que representa, existindo portanto idolatria ,e não hábito.
      Porém, ao observar a grande fila na entrada do teatro, a ecleticidade e volume da platéia (desde casais de namorados no auge de seus quinze anos até avós acompanhando seus netos) , o grande número de incetivos culturais e a variedade de atividades oferecidas (palestras, filmes, peças, entre outras) pude concluir que ela está tendo e provavelmente terá papel importante no processo de desmistificação daquelas grandes e famosas peças e no fomento da valorização do que é feito por maringaenses. 
      Torçamos apenas para que a noite de estréia torne-se rotina.    



O que vocês acham?
       

segunda-feira, 2 de maio de 2011

O outro lado da história

        Algumas provas e um infindável projeto de iniciação científica fizeram com que meu tempo para o blog se reduzisse a poucos minutos diários. Findo o projeto ( as provas ainda não,infelizmente), volto a me dedicar ao cinema, zona 7, livros, UEM ou o que mais possa parecer interessante.
       O tema que me faz escrever hoje talvez destoe um pouco do objetivo do blog, no entanto apesar de leiguíssima no quesito política, senti uma certa obrigação social em escrever algo sobre o assunto.
       Na madrugada de ontem, finalmente, a população norte americana teve o sangue dos seus vingado depois do festejado (e obscuro) assassinato de Osama Bin Laden.  Em meio a jantares comemorativos e manifestações calorosas de alegria e satisfação, o subitamente adorado presidente americano Barack Obama anunciou com muita satisfação que “a justiça foi feita”.
      Sempre fui extremamente cética com relação a teorias da conspiração ou qualquer tipo de especulação que ultrapasse a racionalidade e passe a  justificar-se através de argumentos político-ideológicos. Contudo, neste caso é natural a qualquer indivíduo que tenha o mínimo de senso crítico um processo de contestação das informações fornecidas pela mídia e formulação de justificativas um pouco mais bem fundamentadas que a frágil “execução da justiça”.
      Quando eleito em 2008, Barack Obama assumiu responsabilidades muito além das inerentes a um chefe de estado, sendo sua figura símbolo -em todos os sentidos- de uma mudança drástica na forma de conduzir um país que nos anteriores 8 longos e polêmicos anos havia sido dirigido por um presidente extremamente conservador , representante de um governo decadente ,cujo principal legado (para não citar outros) foi uma bela crise econômica. Um candidato jovem, negro,democrata, dono de um cobiçado Nobel da paz, muito articulado e não menos carismático tinha tudo, portanto, para reverter a crítica situação política e econômica na qual se encontrava os Estados Unidos e ainda recuperar o bom relacionamento com o eleitorado jovem, tão ameaçado na era Bush.
      Apesar de não poucas previsões em contrário, o “Yes you can man” foi eleito com tranqüilidade, e em sua figura foram depositadas- como previsto- inúmeras expectativas e esperanças de recuperação do país.  O início de sua gestão deixou a população ainda anestesiada pela onda de suposta mudança gerada através de sua eleição, todavia ,com o passar do tempo os norte americanos passaram a não observar nenhuma alteração significativa em sua conjuntura política: os efeitos da crise econômica continuavam ameaçando o país; a guerra do Iraque permanecia um problema sem solução e extremamente caro, e as mudanças propostas pelo presidente com relação ao sistema de saúde dividiam opiniões e geravam descontentamento.Tornava-se, portanto, cada dia mais evidente a falta de entusiasmo da população com relação a seu atual presidente. A popularidade de um líder tão elogiado a época de sua eleição evaia-se gradativamente, e com ela a esperança de manter a ala democrata no governo.

        Subitamente, faltando pouco mais de um ano para a próxima eleição (que terá novamente Obama como candidato), no ano em que o atentado ao World Trade Center completa 10 anos, o Presidente anuncia que Osama Bin Laden,traidor dos traidores, inimigo dos inimigos da população norte americana, foi morto.Obama, apesar de não ter sido diretamente responsável pelo assassinato do líder da Al Qaeda, foi ovacionado como se tivesse trazido pessoalmente a cabeça do terrorista em uma reluzente bandeja de prata, depois de anos de árduas batalhas. O guerreiro Barack foi saudado por inúmeras pessoas dentro e fora da Casa Branca, que comemoraram com festa “sua” conquista em meio a gritos de euforia e ufanismo .
       Uma declaração, sem sombra de dúvidas, meticulosamente encaixada no tempo e no espaço, muito mais conveniente aos interesses de Obama- e conseqüentemente da ala democrata -que da promoção da justiça propriamente dita (Me pergunto: e os Tribunais Penais Internacionais?), que fez com que todos os fracassos econômicos, bélicos e sociais de seu governo fossem devidamente esquecidos  as 0h30  hrs (horário de Brasília) do dia 02 de maio de 2011


PS:Não acredito e nem pretendo insinuar que Bin Laden já foi morto ou ainda permanece vivo. Tais especulações deixo, como já disse acima, para as teorias da conspiração. Apenas queria incitar algumas reflexões com relação ao contexto político em que tal assassinato foi tornado público.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Fatos da Zona 7

      Há quinze dias, mais ou menos, postei aqui no blog um texto fruto da onda de furtos e roubos pela qual a Zona 7 estava passando. Escrevi, entre outras coisas, que a Polícia costuma ser presença constante nas noites de quinta- feira no Kanarinhus, não agindo contudo, com tanta eficiêcia na prevenção da criminalidade no bairro.
      Neste sábado passado (09/04) tive a oportunidade de presenciar um episódio que ilustra perfeitamente esta atuação desequilibrada de nossa força policial, que além de buscar mais a intimidação que a proteção, muitas vezes age de forma truculenta e desnecessária.
      Por volta das 21:00 fui até a lanchonete Hora do Lanche (Av.Doutor Mario Clapier Urbinati) para comer um sanduíche e conversar com alguns amigos. Assim que estacionei o carro e me dirigi a calçada, 5 viaturas atendendo a uma denúncia de som alto desceram a rua na contramão em alta velocidade e pararam na frente da república K-zona, onde acontecia uma festa( 2 viaturas já estavam estacionadas no local).


      Muitos policiais armados com escopetas e cacetetes desceram dos carros e concentraram-se todos na frente do portão da casa. Não tive a oportunidade de averiguar perfeitamente o que donos da casa e policiais falavam, mas pelo que um dos moradores da república me informou depois, estes queriam conversar com algum representante da república, e caso ele demorasse a aparecer iriam invadir. Depois de 15 minutos o sujeito apareceu para prestar esclarecimentos aos policiais, conversou durante algum tempo e foi levado involuntariamente em uma viatura para a delegacia.
    


       Como já disse acima, ainda não tive oportunidade de averiguar perfeitamente o que aconteceu, e inclusive pretendo ir até a república K-zona esta semana para conversar melhor com o pessoal que mora lá.     Contudo,mesmo não sabendo dos acontecimentos na íntegra, as perguntas que ficaram na minha mente e na de muitos jovens que estavam presentes nesta cena foram: Será que uma denúncia de som alto incomoda tanto a ponto de serem necessárias 7 viaturas? Será que som alto constitui uma ameaça a alguém? Afinal, os policias estavam nitidamente prontos para agir.Será que o morador da república precisava ser levado até a Delegacia para "assinar B.O"? E finalmente, a pergunta mais intrigante de todas: Onde estavam estas 7 viaturas quando a Loja de Conveniências ao lado da lanchonete Hora do Lanche foi assaltada e precisou esperar 40 minutos até um carro policial chegar no local?
      Nós realmente gostaríamos de saber.

terça-feira, 29 de março de 2011

Direitos Iguais. Será?

Nos últimos dias a situação crítica da segurança na zona 7 apareceu inúmeras vezes em jornais, blogs e sites. Policiais foram procurados para prestar esclarecimentos, jovens assaltados entrevistados para declarar sua preocupação com a situação e, principalmente, redobrou-se o cuidado na hora de sair ou entrar em casa .Porém, o estopim foi o sequestro de um aluno ao sair do estacionamento da própria universidade, o que fez com que o assunto adquirisse notoriedade dentro do campus e  virasse motivo de revolta para a grande maioria dos estudantes.
Concordo que a situação é realmente alarmante , e é justamente por isso que gostaria de fazer algumas reflexões críticas sobre os possíveis motivos que  propiciaram  esta sucessão de furtos e roubos.
                É do conhecimento de todos que habitam a Zona 7 que um dos maiores problemas que o bairro enfrenta é a coexistência nem sempre pacífica entre jovens universitários e idosos que habitam a região antes mesmo da universidade existir.  A grande maioria daqueles deseja festa (e conseqüentemente barulho) e estes , paz e tranqüilidade (e conseqüentemente silencio), interesses estes completamente distintos, que já deram ensejo a muitas brigas, discussões e polêmicas.
                Com o passar dos anos, os moradores mais antigos incitaram a promulgação de leis que defendessem seus interesses no bairro e reivindicaram um policiamento mais ativo, que “zelasse” pelo devido cumprimento das normas e garantisse a tão almejada tranqüilidade.
 No entanto o que acabou e ainda acaba acontecendo na prática é a proteção constante das reivindicações dos moradores acima citados e a negligência da polícia militar em relação aos interesses dos muitos jovens que habitam a região.  As viaturas (muitas, por sinal) são vistas todas as quintas feiras ao redor do Kanarinhus Bar, porém desaparecem subitamente nos outros dias da semana, deixando os universitários  a mercê de episódios criminosos lamentáveis como os que andam acontecendo. Parecem esquecer que a Zona 7 é uma dos bairros mais visados da cidade, devido a grande quantidade de estudantes que moram sozinhos ou em repúblicas, e que são em áreas como estas que um policiamento constante visando a prevenção e não a repressão faz-se necessário.
O tratamento igual entre antigos e novos moradores não deveria uma necessidade, mas sim um realidade. Torçamos agora para que estes acontecimentos sirvam de exemplo a Polícia Militar, e que aos furtos e roubos seja dada a mesma importância que foi e é dada ao perturbante, porém inofensivo barulho.  

quinta-feira, 10 de março de 2011

Bruna Surfistinha: Um ensaio sobre o preconceito

          Um dia frio e chuvoso em Florianópolis privou-me da praia e das cervejas e levou-me ao cinema. Animei-me com a ideia pois presumi que em uma capital conseguiria assistir o aclamado Biutiful, que na pacata Maringá ainda não demonstrou nem sinal de exibição. Infelizmente,minha expectativa não foi correspondida.Chegamos ao cinema e as opções eram: "Bruna Surfistinha" (grande fila na bilheteria), alguns filmes infantis , "Black Swan" e "O Discurso do Rei" (ambos já assisti). Confesso que com certa resistência e devido a insistência de meus amigos, acabei assistindo ao polêmico "Bruna Surfistinha".
        Duas coisas passaram pela minha cabeça assim que entrei no cinema: primeiro, que Charles Chaplin deveria estar remoendo-se em sua cova naquele momento,pois "Luzes da Cidade" e "Bruna Surfistinha" querendo ou não pertencem a uma mesma indústria visual; Segundo: como é triste ver um cinema praticamente lotado em um filme "como aquele" enquanto Biutiful nem sequer chegou as grandes telas em uma capital.
       Sentei em minha poltrona, e o filme começou. Confesso que me surpreendi muito. Não pela qualidade do filme, que prefiro não comentar aqui, mas sim pelo roteiro e a reação que este provocou nas pessoas ao meu redor e em mim mesma.
       Prostituta, jovem, muita cocaína, conflitos psicológicos, dificuldades financeiras, promiscuidade, e acima de tudo sexo, muito sexo. Acho que todos que compraram seus bilhetes e adentraram a sala do cinema sabiam perfeitamente que estas seriam, basicamente, as características  do filme. Contudo, durante e depois da exibição não ouvi nenhum comentário em relação a estória ou a qualidade do filme. Ouvi apenas frases como: "quantas coisas nojentas", "que pouca vergonha" .
      Até agora não consegui entender o motivo pelo qual  tantas pessoas,conscientemente,  gastaram 10 reais de seus bolsos para assistir uma coisa que condenam tanto. Afinal, filmes como "Aos treze", "Trainspotting", "Christiane F." (que por sinal são bons filmes e tem temáticas muito semelhantes ao Bruna Surfistinha) são rechaçados e dignos de censura para pelo menos 50% dos que estavam dentro do cinema. Claro que o marketing envolvido no filme e a atriz global que o protagoniza são fatores que influenciam muito o público, contudo ninguém é coagido a assistir algo que lhe causa asco. 
              Enfim, depois de refletir sobre os comentários alheios, comecei a pensar no efeito que o filme produziu em mim. Não vou negar que minha vontade de assisti-lo era praticamente nula. Bruna Surfistinha tornou-se uma caricatura nacional durante os ultimos anos, principalmente depois da publicação de seu livro "Doce Veneno do Escorpião"  e para mim o livro jamais deveria ser adaptado para o cinema considerando a grande quantidade de excelentes obras literárias brasileiras que temos no mercado atualmente.
               Porém ver o cinema lotado e  ouvir todas as discussoes geradas pelo filme lembraram-me da frase do sabio professor Antonio Ozai: "O filme é um produto, mercadoria, valor de uso e valor de troca. A produção desta mercadoria específica exige investimentos – público e/ou privado – e envolve uma gama de indivíduos para além dos atores, figurantes e direção. Implica, portanto, utilização de força de trabalho e expectativa de lucro para os produtores e financiadores.". Com certeza a adaptação de Machado de Assis, Guimarães Rosa ou Graciliano Ramos seriam muito mais intelectualmente nobres, porém, muito menos lucrativas.Portanto,  minha análise durante o filme passou gradativamente de preconceituosa a pragmática. Percebi que dentro da limitação cultural do mercado o roteiro adaptado de Bruna Surfistinha saiu-se relativamente bem, considerando que, como já disse no parágrafo anterior, a estória é semelhante a de producões do circuito alternativo, cuja maior caracterista é o publico limitado e específico.
              Para o bem ou para o mal , se não fosse o filme da famigerada prostituta "com cara de surfistinha" talvez nem eu e nem nenhum dos telespectadores presentes na sala de exibição teriam refletido ao menos durante 2 horas sobre coisas alheias aos seus preconceitos.