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terça-feira, 29 de março de 2011

Direitos Iguais. Será?

Nos últimos dias a situação crítica da segurança na zona 7 apareceu inúmeras vezes em jornais, blogs e sites. Policiais foram procurados para prestar esclarecimentos, jovens assaltados entrevistados para declarar sua preocupação com a situação e, principalmente, redobrou-se o cuidado na hora de sair ou entrar em casa .Porém, o estopim foi o sequestro de um aluno ao sair do estacionamento da própria universidade, o que fez com que o assunto adquirisse notoriedade dentro do campus e  virasse motivo de revolta para a grande maioria dos estudantes.
Concordo que a situação é realmente alarmante , e é justamente por isso que gostaria de fazer algumas reflexões críticas sobre os possíveis motivos que  propiciaram  esta sucessão de furtos e roubos.
                É do conhecimento de todos que habitam a Zona 7 que um dos maiores problemas que o bairro enfrenta é a coexistência nem sempre pacífica entre jovens universitários e idosos que habitam a região antes mesmo da universidade existir.  A grande maioria daqueles deseja festa (e conseqüentemente barulho) e estes , paz e tranqüilidade (e conseqüentemente silencio), interesses estes completamente distintos, que já deram ensejo a muitas brigas, discussões e polêmicas.
                Com o passar dos anos, os moradores mais antigos incitaram a promulgação de leis que defendessem seus interesses no bairro e reivindicaram um policiamento mais ativo, que “zelasse” pelo devido cumprimento das normas e garantisse a tão almejada tranqüilidade.
 No entanto o que acabou e ainda acaba acontecendo na prática é a proteção constante das reivindicações dos moradores acima citados e a negligência da polícia militar em relação aos interesses dos muitos jovens que habitam a região.  As viaturas (muitas, por sinal) são vistas todas as quintas feiras ao redor do Kanarinhus Bar, porém desaparecem subitamente nos outros dias da semana, deixando os universitários  a mercê de episódios criminosos lamentáveis como os que andam acontecendo. Parecem esquecer que a Zona 7 é uma dos bairros mais visados da cidade, devido a grande quantidade de estudantes que moram sozinhos ou em repúblicas, e que são em áreas como estas que um policiamento constante visando a prevenção e não a repressão faz-se necessário.
O tratamento igual entre antigos e novos moradores não deveria uma necessidade, mas sim um realidade. Torçamos agora para que estes acontecimentos sirvam de exemplo a Polícia Militar, e que aos furtos e roubos seja dada a mesma importância que foi e é dada ao perturbante, porém inofensivo barulho.  

quinta-feira, 10 de março de 2011

Bruna Surfistinha: Um ensaio sobre o preconceito

          Um dia frio e chuvoso em Florianópolis privou-me da praia e das cervejas e levou-me ao cinema. Animei-me com a ideia pois presumi que em uma capital conseguiria assistir o aclamado Biutiful, que na pacata Maringá ainda não demonstrou nem sinal de exibição. Infelizmente,minha expectativa não foi correspondida.Chegamos ao cinema e as opções eram: "Bruna Surfistinha" (grande fila na bilheteria), alguns filmes infantis , "Black Swan" e "O Discurso do Rei" (ambos já assisti). Confesso que com certa resistência e devido a insistência de meus amigos, acabei assistindo ao polêmico "Bruna Surfistinha".
        Duas coisas passaram pela minha cabeça assim que entrei no cinema: primeiro, que Charles Chaplin deveria estar remoendo-se em sua cova naquele momento,pois "Luzes da Cidade" e "Bruna Surfistinha" querendo ou não pertencem a uma mesma indústria visual; Segundo: como é triste ver um cinema praticamente lotado em um filme "como aquele" enquanto Biutiful nem sequer chegou as grandes telas em uma capital.
       Sentei em minha poltrona, e o filme começou. Confesso que me surpreendi muito. Não pela qualidade do filme, que prefiro não comentar aqui, mas sim pelo roteiro e a reação que este provocou nas pessoas ao meu redor e em mim mesma.
       Prostituta, jovem, muita cocaína, conflitos psicológicos, dificuldades financeiras, promiscuidade, e acima de tudo sexo, muito sexo. Acho que todos que compraram seus bilhetes e adentraram a sala do cinema sabiam perfeitamente que estas seriam, basicamente, as características  do filme. Contudo, durante e depois da exibição não ouvi nenhum comentário em relação a estória ou a qualidade do filme. Ouvi apenas frases como: "quantas coisas nojentas", "que pouca vergonha" .
      Até agora não consegui entender o motivo pelo qual  tantas pessoas,conscientemente,  gastaram 10 reais de seus bolsos para assistir uma coisa que condenam tanto. Afinal, filmes como "Aos treze", "Trainspotting", "Christiane F." (que por sinal são bons filmes e tem temáticas muito semelhantes ao Bruna Surfistinha) são rechaçados e dignos de censura para pelo menos 50% dos que estavam dentro do cinema. Claro que o marketing envolvido no filme e a atriz global que o protagoniza são fatores que influenciam muito o público, contudo ninguém é coagido a assistir algo que lhe causa asco. 
              Enfim, depois de refletir sobre os comentários alheios, comecei a pensar no efeito que o filme produziu em mim. Não vou negar que minha vontade de assisti-lo era praticamente nula. Bruna Surfistinha tornou-se uma caricatura nacional durante os ultimos anos, principalmente depois da publicação de seu livro "Doce Veneno do Escorpião"  e para mim o livro jamais deveria ser adaptado para o cinema considerando a grande quantidade de excelentes obras literárias brasileiras que temos no mercado atualmente.
               Porém ver o cinema lotado e  ouvir todas as discussoes geradas pelo filme lembraram-me da frase do sabio professor Antonio Ozai: "O filme é um produto, mercadoria, valor de uso e valor de troca. A produção desta mercadoria específica exige investimentos – público e/ou privado – e envolve uma gama de indivíduos para além dos atores, figurantes e direção. Implica, portanto, utilização de força de trabalho e expectativa de lucro para os produtores e financiadores.". Com certeza a adaptação de Machado de Assis, Guimarães Rosa ou Graciliano Ramos seriam muito mais intelectualmente nobres, porém, muito menos lucrativas.Portanto,  minha análise durante o filme passou gradativamente de preconceituosa a pragmática. Percebi que dentro da limitação cultural do mercado o roteiro adaptado de Bruna Surfistinha saiu-se relativamente bem, considerando que, como já disse no parágrafo anterior, a estória é semelhante a de producões do circuito alternativo, cuja maior caracterista é o publico limitado e específico.
              Para o bem ou para o mal , se não fosse o filme da famigerada prostituta "com cara de surfistinha" talvez nem eu e nem nenhum dos telespectadores presentes na sala de exibição teriam refletido ao menos durante 2 horas sobre coisas alheias aos seus preconceitos.