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quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Pink Flamingos: "People around you can make you sick"

Há muito tempo não tenho o prazer de desfrutar momentos de ócio criativo. Ultimamente grande parte dos meus dias, infelizmente, foi ocupada com textos chatos e trabalhos infindáveis da faculdade. Mas agora, enfim, o ano letivo acabou e tenho plena disponibilidade para dedicar-me a boas leituras e bons filmes.
 Para dar inicio a temporada de férias, escolhi comentar aqui um filme que me agradou muito, apesar da opinião do público em geral ser bem controversa: Pink Flamingos, filme do diretor americano John Waters, feito com baixíssimo orçamento e lançado em 1972  .
 Visualmente falando, o filme parece um grande pesadelo surrealista a la Salvador Dali & Buñuel.
Quanto ao roteiro, trata-se de uma disputa bizarra e grotesca pelo título da pessoa mais podre. Como competidores, temos Divine ( a até então detentora do almejadissimo título),um nome um tanto quanto contraditório para  uma prostituta(o?) lésbica,adepta do canibalismo e amante do gosto de sangue quente, recém saído das veias (de pessoas recém assassinadas, preferencialmente). Os piores rivais da diva da podridão são Connie e Raymond, um casal não menos digno do titulo que Divine. Ambos ganham a vida seqüestrando jovens nas estradas, aprisionando-as, instigando um empregado e engravidá-las para depois matá-las e venderem os bebes para casais de lésbicas. Além disso, Raymond, aparentemente ainda vivendo sua fase fálica, gosta de sair pelas ruas, mostrando seu orgão sexual amarrado a uma salsicha ou pedaço de carne crua para “impressionar” jovens que estejam passando.
Estes são os principais participantes da disputa. Como coadjuvantes (se é que há coadjuvantes neste filme) temos o filho de Divine, fervoroso adepto de toda e qualquer bizarrise sexual, a inquilina e também amante de Divine que sente um prazer infinito em observar e instigar tais atos sexuais e sua mãe, uma senhora extremamente obesa que come em média 100 ovos por dia e vive em um berço que deve medir aproximadamente 1m² .
Divine: A rainha da podridào  
Prefiro deixar o desenrolar da trama aos que desejarem assistir ao filme. Acho que a apresentação dos personagens já foi suficiente para demonstrar o quão iconoclasta e grotesco ele é.
Pode parecer de extremo mau gosto a afirmação de que gostei muito do filme.Contudo, por trás de toda esta náusea visual, esconde-se uma critica muito bem elaborada sobre a natureza do ser humano, seus desejos ocultos ,instintos reprimidos. A linha tênue existente entra a pessoa mais podre e a mais idônea do mundo. Não haveria nenhuma intersecção entre estes dois títulos?
Além disso, Pink Flamingos contem, a meu ver, uma das mais irônicas metáforas sobre a hipocrisia de nossa raça: quando Divine ou Connie e Raymond cometem alguma atrocidade, agem como se praticassem atos corriqueiros, sem qualquer tipo de censura. Todavia, quando são alvo dessas atitudes deploráveis e nauseabundas adquirem um tom moralista, colocando-se no lugar de vitimas de um grande absurdo que deve ser severamente punido.
Enfim, aos que ainda não desistiram da leitura, e forem capazes de suportar 1:45 de muita arte surreal, recomendo que assistam ao filme, e tirem suas próprias conclusões.  

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Velhos temas, "novas'' séries.

Recentemente voltei a despertar meu interesse por seriados americanos. Não que eles não mereçam destaque ou atenção, pelo contrário, tem um papel importantíssimo na indústria da comunicação. Contudo, a imagem que sempre me deixaram foi de certa superficialidade, parecia-me que os episódios buscavam apenas entreter-me por 50 minutos, sem causar alguma perturbação intelectual.No final de cada temporada, a impressão que tinha era de que não haviam acrescentado-me nada.
Contudo, sou obrigada a admitir que meu julgamento foi no mínimo, pretensioso.
Duas séries no ultimo mês mudaram completamente minha concepção sobre o que é um seriado norte americano; Boardwalk Empire e The Sopranos. Ambas, superproduções do canal HBO e centradas na temática da máfia, gangsters, política e corrupção.
 A muitos pode parecer que tenho um fraco por seriados políticos e violentos, na verdade até tenho. No entanto, não foram estas características que chamaram minha atenção. Apesar de não apreciar muito os seriados, como já havia dito, conheço-os relativamente bem. Tive a oportunidade de assistir (não completamente, confesso) muitos deles, inclusive com a mesma temática. Mas nenhum foi capaz de sair da tópica do “seriado policial”. “Tiras”, gangsters malvados e desprovidos de escrúpulos que extorquem dinheiro de pessoas inocentes e matam indeliberadamente, e que, principalmente, tem o que merecem no final e o mundo acaba “limpo” de toda esta escória imunda.
A escória imunda continua existindo. Os gangsters continuam existindo, e praticando os mesmos atos condenáveis que sempre praticaram. Matam, subornam, mentem, trapaceiam. Mas o que tem por trás disso? Qual o efeito da práticas destas organizações na sociedade e dentro de suas famílias? Como eles vivem , o que pensam? Como conseguem lhe dar com tantas mortes, tanta “sujeira”? Será que necessariamente sempre são pessoas malévolas, planejando o domínio pleno? É o que lhes pergunto. Até então estas respostas ficavam fora do roteiro dos episódios, pois não era interessante executar uma produção voltada para a televisão contendo temáticas tão polemicas, que geralmente apareciam apenas em filmes, que tem um público alvo e uma exibição restrita. Não era interessante deixar o vilão impune semanalmente, no mesmo horário e no mesmo canal.
    Tony Soprano: apenas um mafioso?
O elegantemente corrupto Nuck Thompson em Boardwalk Empire
Foi exatamente ai, que, a meu ver Boardwalk empire e The Sopranos quebraram com os padrões decadentes deste gênero de seriado. Seus respectivos roteiristas, diretores e produtores conseguiram contrabalancear violência gratuita com humanidade, conflitos existências, problemas familiares, enfim, com subjetividade, e, assim, criaram novas perspectivas, aumentaram as possibilidades e limites que até então pareciam petrificados neste ramo.