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segunda-feira, 2 de maio de 2011

O outro lado da história

        Algumas provas e um infindável projeto de iniciação científica fizeram com que meu tempo para o blog se reduzisse a poucos minutos diários. Findo o projeto ( as provas ainda não,infelizmente), volto a me dedicar ao cinema, zona 7, livros, UEM ou o que mais possa parecer interessante.
       O tema que me faz escrever hoje talvez destoe um pouco do objetivo do blog, no entanto apesar de leiguíssima no quesito política, senti uma certa obrigação social em escrever algo sobre o assunto.
       Na madrugada de ontem, finalmente, a população norte americana teve o sangue dos seus vingado depois do festejado (e obscuro) assassinato de Osama Bin Laden.  Em meio a jantares comemorativos e manifestações calorosas de alegria e satisfação, o subitamente adorado presidente americano Barack Obama anunciou com muita satisfação que “a justiça foi feita”.
      Sempre fui extremamente cética com relação a teorias da conspiração ou qualquer tipo de especulação que ultrapasse a racionalidade e passe a  justificar-se através de argumentos político-ideológicos. Contudo, neste caso é natural a qualquer indivíduo que tenha o mínimo de senso crítico um processo de contestação das informações fornecidas pela mídia e formulação de justificativas um pouco mais bem fundamentadas que a frágil “execução da justiça”.
      Quando eleito em 2008, Barack Obama assumiu responsabilidades muito além das inerentes a um chefe de estado, sendo sua figura símbolo -em todos os sentidos- de uma mudança drástica na forma de conduzir um país que nos anteriores 8 longos e polêmicos anos havia sido dirigido por um presidente extremamente conservador , representante de um governo decadente ,cujo principal legado (para não citar outros) foi uma bela crise econômica. Um candidato jovem, negro,democrata, dono de um cobiçado Nobel da paz, muito articulado e não menos carismático tinha tudo, portanto, para reverter a crítica situação política e econômica na qual se encontrava os Estados Unidos e ainda recuperar o bom relacionamento com o eleitorado jovem, tão ameaçado na era Bush.
      Apesar de não poucas previsões em contrário, o “Yes you can man” foi eleito com tranqüilidade, e em sua figura foram depositadas- como previsto- inúmeras expectativas e esperanças de recuperação do país.  O início de sua gestão deixou a população ainda anestesiada pela onda de suposta mudança gerada através de sua eleição, todavia ,com o passar do tempo os norte americanos passaram a não observar nenhuma alteração significativa em sua conjuntura política: os efeitos da crise econômica continuavam ameaçando o país; a guerra do Iraque permanecia um problema sem solução e extremamente caro, e as mudanças propostas pelo presidente com relação ao sistema de saúde dividiam opiniões e geravam descontentamento.Tornava-se, portanto, cada dia mais evidente a falta de entusiasmo da população com relação a seu atual presidente. A popularidade de um líder tão elogiado a época de sua eleição evaia-se gradativamente, e com ela a esperança de manter a ala democrata no governo.

        Subitamente, faltando pouco mais de um ano para a próxima eleição (que terá novamente Obama como candidato), no ano em que o atentado ao World Trade Center completa 10 anos, o Presidente anuncia que Osama Bin Laden,traidor dos traidores, inimigo dos inimigos da população norte americana, foi morto.Obama, apesar de não ter sido diretamente responsável pelo assassinato do líder da Al Qaeda, foi ovacionado como se tivesse trazido pessoalmente a cabeça do terrorista em uma reluzente bandeja de prata, depois de anos de árduas batalhas. O guerreiro Barack foi saudado por inúmeras pessoas dentro e fora da Casa Branca, que comemoraram com festa “sua” conquista em meio a gritos de euforia e ufanismo .
       Uma declaração, sem sombra de dúvidas, meticulosamente encaixada no tempo e no espaço, muito mais conveniente aos interesses de Obama- e conseqüentemente da ala democrata -que da promoção da justiça propriamente dita (Me pergunto: e os Tribunais Penais Internacionais?), que fez com que todos os fracassos econômicos, bélicos e sociais de seu governo fossem devidamente esquecidos  as 0h30  hrs (horário de Brasília) do dia 02 de maio de 2011


PS:Não acredito e nem pretendo insinuar que Bin Laden já foi morto ou ainda permanece vivo. Tais especulações deixo, como já disse acima, para as teorias da conspiração. Apenas queria incitar algumas reflexões com relação ao contexto político em que tal assassinato foi tornado público.

8 comentários:

  1. olho por olho dente por dente, Hamurabi está em alta. Ainda bem que o due process of law foi respeitado...


    Abçs

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  2. isto, é claro, considerando que ele estava vivo e que o mataram mesmo.

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  3. Due Process of Law! Essa foi boa, Leandro!

    Um texto sóbrio,Raquel. Eu já pensei em mil coisas para escrever sobre o episódio - incluindo hipóteses mirabolantes sobre a manutenção de Bin Laden em cativeiro para legitimação da Era do Terror (2001-*) -, mas vou deixar a poeira baixar.

    Uma coisa é certa: Barack Obama, notável estrategista, reverteu completamente a situação política nos Estados Unidos minutos após o anúncio da CNN e passou de "possível imigrante ilegítimo no cargo de Presidente" para "Herói da Guerra ao Terror".

    O cara "deu um chapeu" na massa acrítica mundial. Joga muita bola esse Obama.

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  4. Pensei nessa questão também Rafael. Foi uma jogada de mestre, que vai proporcionar chances na próxima eleição.

    Sua hipótese mirabolante não é assim tão impossível, do EUA não duvido nada.

    A respeito do texto Raquel, que até esqueci de comentar, está perfeito.

    Abçs

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  5. Rafa, Leandro, obrigada por lerem e comentarem o texto.
    Quanto a sobriedade dele, preferi deixar maiores conclusões para os leitores e seus repectivos interesse/conhecimento no assunto.
    Gostaria de fazer mais um comentário: A reação e o comportamento que a população estadunidense apresentou depois da declaração de Obama (festas, passeatas, ira pelo fato da integridade do cadáver ter sido-supostamente-respeitada)dariam um belo estudo psicológico e sociológico, não?

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  6. A meu ver, daria sim, para descobrir, por exemplo, por que uma guerra que foi supostamente desencadeada para liquidar Osama, que provocou mais mortes de civis do que as mortes das torres gêmeas - 4 vezes mais, seria motivo pra comemoração? Celebrar a morte faz sentido?
    Outro ponto interessante, pra não falar lamentável, é Obama vir ao mundo e dizer: o mundo está melhor agora. Melhor pra quem? Só se for pra eles que devastaram um país inteiro para recuperar uma suposta honra. E quem fica com os efeitos?
    Abçs

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  7. se matou...disse bem (porque confesso que nem naquela ida à lua eu acredito..) Mas, independente de ter matado...toda a caçada primitiva ao "inimigo" e a celebração da vitória dos fortes, nos colocam de bandeja nas mãos do velho Hobbes..
    não é?
    bjos
    ps: e se houvesse um parente no prédio não engrossaríamos o cordão dos que pediam a cabeça do "executado"?

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  8. ahh Quel, o texto tá ótimo..bjoo, Crishna

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